"Há quatro tesouros valiosos: Uma mulher bela, um filho valente, um bom livro; são os três primeiros, e o quarto é a recordação desses três."
O princípe inclinou-se para a Estrela do Norte e enviou-lhe seu pensamento: Ó Céu Soberano, Imperador Celestial, perdoa a iniquidade humana, pois destruí o conhecimento.
Então, o Imperador Amarelo, que morava na Estrela do Norte, enviou ao príncipe um espírito em forma de velho monge, que lhe disse:
-Ó poderoso príncipe, eis aqui o que viestes conquistar - e apresentou-lhe 4 pedaços de porcelana quebrada - este é o tesouro pelo qual mataste tantas pessoas.
Aí o príncipe golpeou seu peito e lastimou-se:
-Que grande mal eu fiz! Foi uma grande maldade ter matado tanta gente, mas pior foi ter matado o conhecimento: matei muitos livros, assassinei a beleza do templo; desonrei-me ante o Céu, humilhar-me-ei ante a Terra. Nem sequer a morte pode corrigir esse erro.
O ancião gargalhou secamente:
-Ó ilustre príncipe, como és vaidoso! Como podes crer que pudeste matar a beleza? Como pode o homem destruir o que não pode criar? A beleza, príncipe, é um espírito, e dez mil soldados e generais não podem matar um espírito.
-Não brinque comigo, sou um homem arruinado e devo pagar uma oferenda às vozes dos livros que silenciei para sempre.
Disse o emissário do Imperador Amarelo:
O ancião atirou os cacos aos pés do príncipe:
-Tu pensas, ó ignorante, que porque estes pedaços foram destruídos, destruíste a Beleza. Achas que tens o poder de matar o espírito de um pratinho de barro? Amanhã virá outro sonhador. O pratinho viverá novamente. E continuará vivendo até o fim, quando todos os homens converterem-se em espíritos e sentarem-se juntos no banquete do Imperador Amarelo. E lá também estarão chícaras espirituais para que os mandarins possam beber o seu chá. Assim sucede com todas as obras realizadas pelos homens.
Não te lamentes pelos livros que incendiaste, pois serão novamente escritos. Não te lamentes pelos poemas que perdeste ou pelas canções que silenciaste, pois seguirão cantando por toda a eternidade. Sonhamos o que destruímos só para descobrir que nada se perde. Com uma bola de fogo incendiaste a Biblioteca das Dez Mil Línguas, mas nem uma delas foi silenciada, ó príncipe. Desde o príncipio do mundo que os homens quiseram silenciar as línguas, mas as palavras do 1º homem serão de novo pronunciadas pelo último homem. O conhecimento não morre com os livros, mas os homens morreriam sem o conhecimento. Por isso sempre os livros serão escritos, e embora não se saiba, será sempre o mesmo livro. Quando pensamos que uma idéia é nossa, mais do que nunca ela não é nossa. Os homens podem morrer pelas suas idéias, pois os homens são mortais, mas as idéias jamais morrem pelas mãos dos homens, porque as idéias são imortais. Por isso, príncipe, contenta-te em aprender esta lição. Os homens têm sonhos de beleza e protegem-nos porque pensam que são frágeis. Uma simples rima de um poeta é mais forte que todas as cordas grossas do mundo, que um dia atarão juntos todos os homens. Uma débil linha pintada num tecido de seda é mais forte que todas as montanhas, mais antiga que os céus, mais duradoura que o tempo. A beleza não precisa ser protegida por ser frágil, mas a ela deve ser rendida homenagem porque é Divina. Ó príncipe, busca a beleza não nas cinzas do tesouro, mas nas ruínas do teu próprio coração, criadas pela tua ambição. É melhor ser servo da beleza que governante dos homens.
O príncipe dirigiu-se com resolução para os seus generais e disse-lhes firmemente:
-Voltarei para o meu reino, passarei meus bens ao meu filho e vestirei o manto amarelo. Os dias que me restarem serão consagrados à leitura dos Sutras para preparar-me para um renascimento mais nobre e pegarei uma roda de um oleiro e rezarei para ter a habilidade de criar um novo corpo para o espírito de um prato quebrado.
IN: RIBEIRO, Anna M.C.; Conhecimento da Astrologia, 10a. edição, Ed.Hipocampo