Chegamos da Ilha do Mel à noite e ao invés de voltarmos para BH estendemos nossa estadia em Curitiba para no dia seguinte conhecermos o Parque Estadual de Vila Velha, no município de Ponta Grossa/PR. Desde criança ouvi sobre a região de Vila Velha/PR e a alta espiritualidade ligada a ela, comparável ou até maior que as grandes ruínas de Macchu Picchu, apesar de fisicamente menores em tamanho. Foi muito simples achar um bom hotel num preço legal em Curitiba e claro, escolhemos um a 3 ou 4 quarteirões da Rodoferroviária, em frente ao Shopping Estação, chamado Nacional Inn Curitiba.
Piscina no terraço do hotel. Achamos um bom preço pelo Booking.com e a diária saiu num custo-benefício excelente. Pena que estava frio (uns 19 graus) e não dava pra nadar.
Vista do Shopping Estação, bem em frente ao hotel onde ficamos. Aqui em BH também tem um Shopping Estação, mas este é numa estação integrada de metrô e ônibus urbano, voltado a um público Classe C ou menor poder aquisitivo. O de Curitiba parece foi construído em homenagem ou a partir de alguma estação de trem tradicional e parece ser menos orientado à classe C, mas bem receptivo a ela. Aproveitamos para jantar e dar um passeio no shopping Estação. O pessoal de Curitiba também curte um shopping domingo à noite! Achava que isso era coisa de mineiro, mas estava enganado. Achamos boas opções de jantar,a um preço bem legal.
Decoração do Shopping Estação: uma cortina de água. Meio "over" mas tá valendo!!
O dia seguinte amanheceu chovendo, bem frio e nublado. Por alguns momentos achamos que não seria possível visitar o Parque, mas mesmo assim, movidos por forte intuição, fomos até a locadora de carros retirar o automóvel que tínhamos reservado. Tentamos ligar para o Parque mas ninguém atendia e no escritório que gerencia o Parque em Ponta Grossa, ninguém sabia dar informações, mas que acreditavam o Parque estar aberto por ser segunda-feira e ele só fechar às terças-feiras, para manutenção.
O pessoal da locadora Movida foi muito legal com a gente e nos alugaram um excelente automóvel, dividindo no cartão o valor da diária. Saímos com um Ford Ka sedan 2015 com apenas 8km rodados e tanque cheio. Fino demais!!
Outro dia tirei foto do painel do meu carro porque estava com o tanque cheio e queria ter este momento gravado. Aí vamos a Curitiba e a locadora nos entrega um carro com 8km rodados. Tive que fotografar!! Dirigir em Curitiba é três vezes mais fácil que em BH. O pessoal é bem melhor no trânsito do que os daqui. Gostei!
O Parque de Vila Velha fica no meio da rodovia que liga Curitiba a Ponta Grossa, a 80km de Curitiba e 20km de Ponta Grossa, literalmente no "meio do nada". Existe uma linha de ônibus urbano que sai de Ponta Grossa e vai até o Parque; e dizem que se pedirmos, os motoristas que fazem a linha Curitiba-Ponta Grossa param para a gente embarcar e desembarcar na porta do Parque. Preferimos não arriscar e descomplicar o processo. Duas passagens de ônibus ida e volta Curitiba-Ponta Grossa sairiam por cerca de 120 reais. O aluguel do carro, contando a devolução com tanque cheio de álcool ficou em cerca de 160, nos dando a liberdade de passearmos um pouco em Curitiba e entregarmos o carro no aeroporto. Caso contrário, ainda teríamos que conciliar o horário do ônibus Ponta Grossa Curitiba ao da rodoferroviária-aeroporto, o que significaria mais R$26 em passagens. Achamos melhor ideia alugar o carro e realmente é a grande dica pra ir à Vila Velha.
Chegamos ao Parque!! Os arenitos que dão nome ao Parque estão no alto da montanha, bem ao fundo desta foto.
O Parque oferece dois itinerários de visitação guiada. Não há opção de visita sem o guia e as restrições quanto à manutenção do ecossistema do Parque são muito rigorosas. Por exemplo me chamaram à atenção por ter pisado na grama fora da trilha para tirar uma fotografia. Faz sentido, já que o intuito é manter ao máximo as características originais do ecossistema, o que inclui evitar que gente pisando a grama acabe por matá-la.
Um dos trajetos leva aos arenitos e o outro às furnas. Os dois são feitos por um microônibus e acompanhados por um guia que fala português, mas não outros idiomas. O trajeto aos arenitos custa R$10 por pessoa e para as furnas R$8. Estudantes, idosos e residentes em Ponta Grossa pagam meia entrada, ou seja, R$9 pelo passeio. Cada passeio dura em média 90 minutos.
Os arenitos são formações rochosas datadas de aproximadamente 340 milhões de anos. Os estudos sugerem que estas formações compunham toda a paisagem da região de Ponta Grossa na remota antiguidade (300 milhões de anos atrás) e com o passar dos tempos veio sendo erodida pelo ar e água, restando apenas os arenitos que visitamos.
O nome Vila Velha vem da tradução de termo análogo no idioma guarani (ou tupi?) dizendo respeito a uma antiga cidade secreta que ali havia. Segundo os nativos, na remota antiguidade existia uma Cidade Sagrada e Secreta na região dos arenitos. A entrada desta Cidade era guardada por um prestigiado Guardião da etnia Guarani. Um povo da etnia Tupi, interessado em tomar para eles a Cidade Sagrada enviou uma belíssima princesa para ser capturada pelo Guardião da Cidade Sagrada, seduzí-lo e traí-lo para que seu povo tomasse a Cidade Sagrada. Ao encontrarem-se, o Guardião e a Princesa apaixonaram-se fortemente e casaram-se sem a permissão de ninguém, deixando de lado suas respectivas missões. Imaginando terem atraído para si a ira de povos das duas etnias -guarani e tupi-, beberam juntos numa Taça de Ouro um licor vermelho que os mataria, para morrerem juntos e não serem assassinados pelo seu próprio povo.
Tupã, o amoroso Deus do Trovão, emocionado pela belíssima história de Amor, onde o Dever foi deixado de lado por um motivo muito mais nobre, resolveu finalizar esta bela história petrificando a todos: ao casal de nativos, à Taça em que beberam, aos que os perseguiam e à Cidade onde havia a entrada para a Cidade Sagrada. Estas petrificações seriam os arenitos que podem ser visitados no Parque, que lembram as muralhas de um castelo ou cidade antiga (Vila Velha). A ideia de Tupã era eternizar esta história para que ela nunca fosse apagada. Tupã aproveitou e dissolveu o ouro da Taça e o levou por um rio subterrâneo até uma furna integrante do sistema, chamada "Lagoa Dourada". Dizem que pessoas sensíveis ainda conseguem ouvir a voz da princesa ecoando pelos arenitos e repetindo "tudo que quero é ficar contigo".
As formações rochosas induzem aos mais variados pensamentos. Vou postar as fotos mas não vou comentar muito a respeito para deixar cada um livre para pensar o que quiser a respeito. Infelizmente estava ainda muito nublado quando começamos a visitação e nem todas as fotos ficaram muito legais. O microônibus deixa a gente no início da trilha dos arenitos, que é feita a pé. Eles são bem grandes, alguns maiores que um prédio de 3 andares. Todas as fotos foram feitas com meu smartphone Nokia Lumia 735 e estão sem nenhuma edição. Vamos lá!
Chegamos a uma das petrificações mais famosas: o casal de nativos tupi-guarani cujo Amor levou Tupã a petrificar todo mundo. Conta-se que foram petrificados juntos, um olhando para o outro e assim ficarão para sempre.
Os rostos em perfil do casal de nativos que levou à petrificação da Cidade Antiga (Vila Velha). Seguimos em frente seguindo a trilha. Em cada ponto mais conhecido o guia parava e explicava alguma coisa útil. Bem legal!
Dizem que as rochas do topo deste arenito são os chifrinhos que a gente do heavy metal faz com a mão \m/. Dizem que é o arenito do rock!! (um trocadilho da pior qualidade, mas como o guia não fala inglês, vamos deixar por isso mesmo...)
De qualquer forma, de 2004 pra cá o Parque está revitalizado e tem sido feito um enorme esforço para retorná-lo às condições naturais mais primitivas possível, com o menor impacto por atividade humana possível, incluindo no processo a retirada de vegetação exótica à região, como aquelas que foram levadas para a região quando não havia controle da entrada de pessoas no Parque e as pessoas literalmente faziam churrasco nos arenitos. Inclusive dizem que já teve um show dos Engenheiros do Hawaii exatamente onde tiramos essa foto. Triste por além de destruir o Parque, nada tem a ver com os chifrinhos. Mas ok, vamos em frente!!
Chegamos à famosa Taça!! Não parece, mas é um arenito enorme, facilmente da altura de um prédio de 3 ou 4 andares. Interessante que ela foi petrificada afastada dos nativos, sozinha, como se fora uma Protagonista também e não uma coadjuvante... mistérios....
Vamos em frente!
Inacreditável, mas realmente as pessoas ainda escrevem nos arenitos de 340 milhões de anos. São inscrições "mediocrestes", por assim dizer. Não chegam a ser consideradas arte rupestre, apesar da rudeza intelectual dos que fazem isso ser comparável à da humanidade primitiva que começou a riscar as paredes das cavernas.
E ao final do passeio, assim que saímos da densa mata que envolve os arenitos... SOL!!!
A sensação de visitar estes arenitos é incrível. Há uma atmosfera e uma vibração diferentes do resto do Parque, além de impressionantes formações rochosas que tanto impressionam pela forma quanto levam nosso pensamento bem longe, vendo nelas as mais variadas coisas e seres petrificados. É um passeio formidável. O sentimento é o de estar visitando um poderoso Santuário em atividade, sentindo toda a vibração do Ambiente Sagrado.
O segundo passeio vai até as furnas, que são imensas crateras que gradualmente vão sofrendo um processo de erosão até tornarem-se lagoas. Umas comunicam-se às outras por meio de canais subterrâneos por onde passa a água da chuva, das nascentes, dos rios e dos aquíferos subterrâneos. O microônibus leva a gente até às furnas e depois à lagoa dourada. Todo o tempo fomos acompanhados por um guia do Parque. Sem ele, não somos autorizados a realizar nenhum passeio. Existe um passeio noturno que precisa ser agendado previamente com eles e deve ser muito interessante.
Uma das furnas! São 58 metros da superfície até o nível d'água e mais 52 (no mínimo) de coluna d'água.
No passado explorava-se carvão mineral nesta furna e por isso foi construído um elevador de carga, felizmente desativado há décadas. No alto a gente vê uma faixa de grama verde bem clara, que é a superfície (chão).
Outra furna imensa, mas já em processo mais avançado de erosão. As árvores vão crescendo e se adaptando ao entorno da furna de maneira fascinante. Antes da mudança na gestão do Parque as pessoas arrancavam e queimavam estas árvores, facilitando o processo de erosão e assim destruindo a furna.
A Lagoa Dourada! Ela fica a alguns km dos arenitos, do outro lado da rodovia. No passado era uma enorme furna. As camadas de sedimento das paredes da furna foram erodindo e acumulando ao fundo da lagoa. O resultado é uma lagoa de água muito cristalina e pouca profundidade devido aos sedimentos em seu leito.
As águas são bem claras devido à forma como chegam até a lagoa - passando por diversas camadas de rocha, que atuam como filtros, deixando a água bem clara.
E na hora de ir embora, o tempo fechou. Na verdade, ficou aberto apenas enquanto fizemos as duas visitas, cada uma durando 90 minutos. Vale muito a pena!!!
Na volta para Curitiba, já em direção ao aeroporto resolvemos jantar no bairro da Santa Felicidade, que dá nome a um vinho bem barato. Para nossa infelicidade muitos dos restaurantes estavam fechados e acabamos comendo em uma confeitaria-lanchonete que tinha um preço muito bom: 29 reais por pessoa para o buffet livre (caldos + saladas + tortas + doces + refrigerante, água, café, chocolate quente ou capuccino). Olha só:
"Quirera" é o que aqui em MG conhecemos como "canjiquinha com costelinha suína e bacon". Bem saboroso. E no final, "Eslava" é o que aqui chamamos de "strogonoff de carne bovina". No caso o deles estava muito bem feito, mas tinha um detalhe peculiar: batatas palito cozidas no molho junto com a carne. Esquisito, mas estava gostoso!!
Um monte de tortas e doces incluídos nos 29 reais, assim como as bebidas.
Eis o lugar onde tal magia acontece. Podia ter um lance desses aqui em BH! Uma coisa que gostei no Paraná foi a facilidade em se encontrar comida bem temperada e bem feita num custo acessível. No RJ ou SP a gente pena pra conseguir achar um bom custo-benefício. Aqui em BH não é nenhuma maravilha, mas em Curitiba e arredores ou as pessoas cozinham melhor, ou simplesmente demos muita sorte. Gostei e queremos voltar e explorar um pouco mais da gastronomia curitibana e outros atrativos turísticos.
No geral, adoramos o passeio e assim que pudermos retornaremos para explorar um pouco mais esta bela capital do Paraná e arredores.
Valeu!!!
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