quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O preço de ter um talento natural





Oi!

Primeiro e antes de mais nada, dê play no video acima.

Nem sabia que ele estava no Rock In Rio! Descobri no dia seguinte, pra todo lado gente elogiando o show. Que show!! Nossa!

Concordo com o meu irmão Artenius, é o tipo de show que tem 100% a ver comigo. É o tipo de música, arranjo, contexto e composição em que sinto em casa. Nem tanto quanto as composições dele (Artenius), mas muito em casa.

Que som de ride lindo... é, Artenius acertou de novo, só os Zildjian Avedis e baterias com bumbos de 24 e sonoridade clássica (vintage) me entendem.

Vocês vão ver. Um dia ainda vou trabalhar com um artista repleto de composições boas assim. Não precisa ser rockstar, só bom compositor e bom músico já basta.

Legal a atitude do Bruce, sair abraçando e interagindo com as pessoas, as roupas simples, o jeito simples de agir com a platéia e com a banda. Músicos são assim mesmo, com raríssimas exceções.

Quem frequenta show e festivais voltados para músicos, como os de música instrumental já está mais do que habituado a músicos que não precisam passar glitter para fazer solo; não precisam se travestir de 1001 referências da cultura pop para conseguirem compor uma canção; nem precisam se colocar num patamar acima das pessoas comuns para se sentir possuidor de um dom especial, como acredito outros profissionais sintam também.

Gostei da atitude do Bruce, vendo material desde o início da carreira, entrevistas e matérias só posso concluir que é um autêntico músico. Ou seja, alguém que tem um dom para a música e que é humilde e simples o suficiente para não desmerecer o dom recebido (ou adquirido em encarnações passadas), nem dele fazer mal uso, como alguns meio-talentosos que precisam do glitter e dos fãs clubes para terem coragem de lançarem músicas ao público.

Acho que o dom que trazemos é como um grande amor. E como os grandes amores é mais um desafio do que qualquer outra coisa. É como o grande amor que mora a 1000km de distância e precisamos dar um jeito de fazer a distância sumir. Ou um que mora do nosso lado e o desafio é fazer o mundo girar, para não ser aprisionado na armadilha do amor-que-se-basta abdicando de termos amigos, contatos, trabalho e uma vida comum, porém, com um grande amor. E resolvido este pequeno desafio, fica tudo mais ou menos perfeito.

Não sou religioso, mas asseguro que Deus coloca um obstáculo, provação ou desafio à altura do talento que carregamos. Em linguagem corrente, é como um código de ativação. Vencido o desafio, o talento estará lá para sempre à disposição.

Na verdade, nem tão desafio assim, é mais uma ilusão. É uma síntese dos nossos maiores e mais obscuros medos, como o de ser rejeitado por quem admiramos, ou de não ter como manter um dom, como o da música. É preciso coragem.

Sempre digo uma frase que ouvi em algum lugar: a vida exige coragem. (Guimarães Rosa?)

É exatamente esse fechar dos olhos e seguir por pura intuição, loucura, desprendimento, "seja o que Deus quiser", sem garantia alguma que faz o dom se revelar, integralmente. Não que sem essa travessia ou passagem o dom não se manifeste. Mas é que não integralmente, não de uma forma que o faça tão feliz a ponto de querer até sentar na calçada e esperar a morte sem medo porque estará feliz e revestido por seu dom.

É o artista que ouve música até no que não é som. Ou cores, formas e figuras até nos aromas e vibrações do solo; ou o autor que fica a assistir, ininterruptamente diante de seus olhos, as mais valiosas e belas encenações e estórias. E assim por diante com os cientistas, trabalhadores simples e etc. Cada qual com o seu dom.

E de novo, que timbre de baixo e bateria maravilhoso. Meu Deus.

Na verdade, 30% aspectos técnicos e 70% de pegada e musicalidade dos músicos.

Gostei mesmo do jeito que eles tocam. Eu tocaria mais ou menos exatamente as mesmas notas, do mesmo jeito. É assim que eu gosto e faço. Massa!!




ARI.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Figura e Fundo




Outro dia um professor de música nos disse assim (adaptado):

"Sabem aquelas figuras de contraste figura-fundo? Tipo uma imagem que se você olhar por um lado, parece um coelho, se olhar por outro, parece um cavalo etc? Pois bem, ensinar música é exatamente dar ao aluno essa perspectiva que ele ainda não tinha. Ou seja, depois que a pessoa aprende que se observar o fundo da figura vemos uma coisa, mas se olharmos a mesma figura por outro lado vemos outra, ela nunca mais vai ver aquela figura do mesmo jeito."

Brilhante.

Vou além.

Acho que a arte de uma forma em geral é assim, todos os artistas passam por isso o tempo todo e a realidade vai ganhando contornos que antes estavam ocultos. E continuarão, para quem não prestar atenção aos detalhes.

Na música, que é o braço da arte que mais tem a ver comigo, é a mesma coisa.

Tem um livro do grande Gene Krupa onde no prefácio lê-se algo assim "quanto mais experiências emocionais e de vida o músico tiver, melhor".

Eu mesmo fiquei anos sem estudar nada de música, tentando viver um pouco mais o cotidiano, as pequenas desavenças, os sonhos, os exageros das paixões, das tristezas e alegrias. E de fato, isso me transformou num músico muito mais completo e complexo do que eu era.

Cada evento cotidiano, cada emoção, cada situação, cada gesto, cada sonho, cada imprevisto cada qualquer coisa pode ser musicada. Tudo tem um som, uma cor e um ponto de origem.

Outro dia estava tentando ouvir no youtube a versão original de um pagode que tocamos nos shows de carnaval da Orquestra Mineira de Brega em 2013. Mesmo a letra e o arranjo sendo brega, a melodia da voz, somada à harmonia me trouxeram um sentido de saudade.

Ai um dos comentários do youtube era mais ou menos assim: "meu pai faleceu num acidente de moto quando eu era pequeno e adorava essa música, quando escuto lembro dele". Engraçado, é o mesmo sentimento que eu tive, apesar da música não me trazer à mente a imagem de ninguém em particular. E a letra, passa muito longe disso. Vai ver por isso seja brega, como é aquilo que tenta ser o que não é.

Eu também já ganhei, já perdi, já apaixonei pela minha imagem refletida em outra pessoa, já quebrei todo por dentro inúmeras vezes, morri, nasci, reencarnei, morri de novo, ganhei e perdi a vida eterna, tudo sem deixar este corpo, este cérebro e este coração. E felizmente hoje consigo dar forma musical a muitas dessas coisas e tantas outras.

Acho que a arte é assim - dar forma ao que não tem um contorno exato. Na minha opinião.

Fica a música de brinde e umas imagens figura-fundo para divertir.

É isso.


ARI.






quarta-feira, 17 de julho de 2013

Yes, a love like yours would surely come my way...



Na minha opinião, um dos últimos grandes compositores dos EUA.

De qualquer forma, desde que eu comecei a tocar bateria e até hoje continuo com o mesmo pensamento - "um dia conseguirei ser tão musical quanto esses grandes compositores e arranjadores".  E continuamos na caminhada!

Tem um tanto de gente que toca uma música inventada na hora por sobre outra música, dá-se a isso o nome de "improviso", "virtuosismo" etc e está ok. Eu sou de um pensamento antigo, acho que grandes composições não precisam de mil e uma maracutaias instrumentais; mas ao contrário, dão abertura a mil e uma possibilidades musicais e artísticas.

Admiro um tanto os compositores contemporâneos eruditos e populares, mas meu raciocínio e sentimento pedem melodias e harmonias que tenham início, meio e fim.

Essa música (Everyday) foi composta nos anos 1950 por um jovem talento musical chamado Buddy Holly, que tragicamente faleceu na época, junto a outros dois grandes talentos musicais da época. Apaga-se uma estrela na Terra, acende-se uma no Céu. Apaga-se uma estrela no Céu, ela renasce na Terra.

E nesse meio tempo ficam pairando entre nós algo como que fragmentos do que a pessoa que se foi sonhava e realizava. Esses pensamentos vão apurando-se com o tempo e ajudam a pessoa a renascer e no futuro conseguir criar uma versão atual de si mesma.

Na minha opinião, o que o James Taylor intuitivamente fez foi dar a estes pensamentos uma nova forma, ainda que mantendo a mesma melodia e letra, mas acrescentando ao tecido musical expressividades que passaram desapercebidas na versão original. Ainda é a mesma música, mas os acordes foram substituídos, oferecendo a possibilidade de novas dinâmicas e contrastes, que fizeram a música virar o que vemos no vídeo acima. E ainda a partir daí poderíamos ir além.

E cá entre nós, o Steve Gadd (bateria) toca bem demais né?

Prefiro mil vezes a interpretação de Gadd nessa música do que o que normalmente os bateristas tocam hoje em dia. Isso principalmente porque muito mais que a bateria, ele está tocando a música e pode acreditar, é diferente de simplesmente tocar a bateria (ou qualquer outro instrumento e não a música através do instrumento; ou a música através do conjunto de instrumentos). A meu ver.

Baterias à parte, que frase linda "Yes, a love like yours would surely come my way" (tradução: Sim, um amor como o seu certamente viria ao meu encontro). James Taylor fez bem em mudar a harmonia desta música. Do jeito original essa frase não tinha o valor devido. Mas já estava lá.


ARI.