sexta-feira, 26 de julho de 2013

Figura e Fundo




Outro dia um professor de música nos disse assim (adaptado):

"Sabem aquelas figuras de contraste figura-fundo? Tipo uma imagem que se você olhar por um lado, parece um coelho, se olhar por outro, parece um cavalo etc? Pois bem, ensinar música é exatamente dar ao aluno essa perspectiva que ele ainda não tinha. Ou seja, depois que a pessoa aprende que se observar o fundo da figura vemos uma coisa, mas se olharmos a mesma figura por outro lado vemos outra, ela nunca mais vai ver aquela figura do mesmo jeito."

Brilhante.

Vou além.

Acho que a arte de uma forma em geral é assim, todos os artistas passam por isso o tempo todo e a realidade vai ganhando contornos que antes estavam ocultos. E continuarão, para quem não prestar atenção aos detalhes.

Na música, que é o braço da arte que mais tem a ver comigo, é a mesma coisa.

Tem um livro do grande Gene Krupa onde no prefácio lê-se algo assim "quanto mais experiências emocionais e de vida o músico tiver, melhor".

Eu mesmo fiquei anos sem estudar nada de música, tentando viver um pouco mais o cotidiano, as pequenas desavenças, os sonhos, os exageros das paixões, das tristezas e alegrias. E de fato, isso me transformou num músico muito mais completo e complexo do que eu era.

Cada evento cotidiano, cada emoção, cada situação, cada gesto, cada sonho, cada imprevisto cada qualquer coisa pode ser musicada. Tudo tem um som, uma cor e um ponto de origem.

Outro dia estava tentando ouvir no youtube a versão original de um pagode que tocamos nos shows de carnaval da Orquestra Mineira de Brega em 2013. Mesmo a letra e o arranjo sendo brega, a melodia da voz, somada à harmonia me trouxeram um sentido de saudade.

Ai um dos comentários do youtube era mais ou menos assim: "meu pai faleceu num acidente de moto quando eu era pequeno e adorava essa música, quando escuto lembro dele". Engraçado, é o mesmo sentimento que eu tive, apesar da música não me trazer à mente a imagem de ninguém em particular. E a letra, passa muito longe disso. Vai ver por isso seja brega, como é aquilo que tenta ser o que não é.

Eu também já ganhei, já perdi, já apaixonei pela minha imagem refletida em outra pessoa, já quebrei todo por dentro inúmeras vezes, morri, nasci, reencarnei, morri de novo, ganhei e perdi a vida eterna, tudo sem deixar este corpo, este cérebro e este coração. E felizmente hoje consigo dar forma musical a muitas dessas coisas e tantas outras.

Acho que a arte é assim - dar forma ao que não tem um contorno exato. Na minha opinião.

Fica a música de brinde e umas imagens figura-fundo para divertir.

É isso.


ARI.






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